sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Muro Apiário do "Monte da Fonte Santa"

"Desde talvez a Idade Média, foram construídas, em vários regiões da Península Ibérica, estruturas para proteger os colmeais da acção predadora dos mamíferos e, em particular, dos ursos. Estas construções são constituídas por muros de pedra, definindo recintos fechados (Figura 1), que chegam a atingir vários metros de altura e apresentam, muitas vezes, remates avançados para o exterior para impedir o acesso ao seu interior. Implantam-se, em geral, no fundo dos vales, voltados a Sul e sobre a confluência de duas linhas de água.


Os muros-apiários são testemunhos materiais, duráveis, da actividade apícola e podem corresponder, em muitos casos, a uma longa utilização, durante várias centenas de anos, ou pelo menos a um uso recorrente. O seu estudo, dos pontos de vista estrutural, funcional e cronológico, reveste-se de muito interesse e originalidade.

No século precedente, nas Memórias Paroquiais de 1758, em resposta à questão "quais os frutos que a terra dá?" os párocos de Escalos de Baixo, Malpica, Monforte, Monsanto, Penha Garcia, Rosmaninhal, Salvaterra e Segura responderam ser o mel um desses produtos.

No interior dos muros, o solo é inclinado, de forma mais ou menos acentuada. Nos casos em que o declive é maior, os muros podem conter dois, três ou mais socalcos, escavados no afloramento ou estruturados em muros de pedra.

O desnivelamento existente entre estas filas facilitava a deslocação das abelhas. Há muros que possuem um orifício, na cota mais baixa, para escoamento da água acumulada no interior. Na face exterior, este buraco surge elevado em relação ao solo.
A existência de árvores, não muito altas, ou arbustos, no interior dos muros era de todo o interesse para os enxames se fixarem quando da sua saída, enquanto esperavam pela rainha. Esta espera facilitava a sua captura. Na região do médio Tejo, nos muros ocupados até há poucos anos, são ainda visíveis as árvores ou os arbustos atrás referidos. Paulo Dias (DIAS, 1993) regista a mesma característica nos muros da serra do Gerês.

Os muros teriam como função primordial proteger os cortiços colocados no seu interior. Actualmente, os principais inimigos dos cortiços (ou colmeias) que poderiam exigir este tipo de construção são os incêndios (ANDRADE, 1988), o vento (ALMEIDA, 1943), o texugo (Meles meles) e o saca-rabos (Herpestes ichneumon). No passado o urso pardo (Ursus arctos) era outro inimigo a considerar. Este mamífero pode mesmo ter determinado o início da construção destes muros" (Muros-apiários da bacia do médio Tejo - Regiões de Castelo Branco e Cáceres).

A 350 metros de um dos nossos apiários, temos o previlégio de ter um destes muros apiários, sendo a prova inequivoca da qualidade excepcional desta zona para a apicultura.

Este muro apiário localiza-se no Monte da Fonte Santa De São Luís (http://www.fontesantasluis.com/), um local maravilhoso, que se aconselha para passar um fim de semana ou até umas férias, sendo o descanso, tranquilidade e convivio com a Natureza, palavras de ordem. Das inúmeras actividades disponiveis, faz parte o apiturismo.

Fotos do Muro apiário da Fonte Santa:

- Vista Superior a Noroeste -
- Vista inferior a Sudeste -
- Socalcos dos cortiços -
O muro apiário encontra-se em fase de reabilitação, esperando que na próxima primavera de 2012 possa receber de novo colónias de abelhas nos "cortiços tradicionais".

terça-feira, 8 de novembro de 2011

"Modo de Produção Biológica"

Este ano iniciamos a conversão das nossas colmeias para modo de produção Biológica (MPB).

O objectivo principal visa valorizar os nossos produtos, pela diferenciação dos mesmos. Podemos dizer que o manuseamento efectuado últimamente, já respeitava as regras impostas para a atribuição deste tipo de certificação, contudo, achamos que teriamos que dar este passo, mostrando transparência e confiança aos nossos clientes.

"A beleza do Pólen"

Este ano, num dos meus recentes apiários fiquei deslumbrado pela tamanha beleza do pólen colectado pelas minhas abelhas. Estes grânulos não são mais do que o conjunto de minusculos grãos produzidos pelas flores, sendo os elementos reprodutores masculinos das plantas.
A importância da colecta do pólen pelas abelhas, deve-se ás inúmeras "fecundações" que as abelhas proporcionam a milhares ou mesmo milhões de plantas, permitindo que frutifiquem, dando continuidade à sua espécie.


O pólen é de extrema importância na colmeia, pois é a base proteica da alimentação das abelhas, sendo crucial na dieta da criação, sendo importantissimo que o sistema de recolha de pólen que utilizamos permita que as abelhas recolham o suficiente para elas, de forma a que não fiquem enfraquecidas.

O sistema que tenho utilizado baseia-se em fazer a recolha durante dois dias consecutivos, alternados com 3 de pausa, pois não quero comprometer a produção de mel. Contudo isto depende das condições meteorológicas... especialmente da chuva...
As armadilhas capta-pólen normalmente são colocadas quando a esteva (Cistus ladanifer) começar a ter flor, até que as principais plantas produtoras de polén comecem a escassear.


O pólen na alimentação humana:

"Pesquisas recentes indicam que o pólen é o alimento mais completo e valioso da natureza, pois além de conter todos os aminoácidos essenciais ao organismo humano, também é rico em oligoelementos minerais, fibras, hormônios vegetais e vitaminas. O pólen também estimula o funcionamento de todos os órgãos internos, melhorando, inclusive, o desempenho sexual. Tem valor nutritivo muito superior à carne ou à proteína de soja. Possui propriedade antioxidante, antianêmica e auxiliar no tratamento preventivo da prostatite. Pode ser utilizado no tratamento de anemias profundas visto que eleva rapidamente a taxa de hemoglobina no sangue" (wikipédia).

"Uma colherinha por dia, não sabe o bem que lhe fazia!"

Cumprimentos,

João Tomé


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Criação de Raínhas 2011

Durante o final da primeira quinzena de Abril dei inicio à criação de raínhas, pois achei que seria o momento adequado, segundo o estado de desenvolvimento das colónias.
Aqui na zona, a irregularidade das condições meteorológicas (umas semanas de calor alternadas de frio), levou a que a primeira remessa de raínhas não corresse tão bem quanto o esperado... tendo havido pouca aceitação e nascimentos das raínhas um a dois dias depois do previsto... frio a mais...
Contudo, as condições melhoraram e para meu espanto, criei alvéolos como nunca tive... com uma grande percentagem de aceitação...
Ao décimo terceiro/quarto dia, era tempo de preparar os mini núcleos de fecundação...

Tive de andar armado em carpinteiro, pois comprei mais mini núcleos e os quadros tive de ser eu a faze-los...
Abertura para introdução de alvéolos...

A bolinha de polén faz maravilhas...

Numa das remessas de raínhas introduzi-as já nascidas, contudo acho que não vale a penas o esforço... prefiro directamente os alvéolos, mais simples e rápido...

Um alvéolo pronto a ser introduzido...

Mais uns alvéolos e uma princesa pronta a ser fecundada...

É com orgulho que admiramos o fruto do nosso esforço e dedicação!

Cá está mais uma remessa de alvéolos à espera de serem introduzidos...

Os mini núcleos, prontinhos a receberem as abelhas e os alvéolos...

As abelhas que irão povoar os mini núcleos...

Mais uma remessa de mini núcleos...

Os mini núcleos prontinhos a irem para o apiário de fecundação!

Cá estão eles já no local definitivo...


Uma princesa pronta a ser fecundada...

A taxa de sucesso de fecundação andou a rondar os 90%, pois tive uns problemas com o candi que coloquei nos protectores com as rainhas nascidas, ficou duro e as raínhas não sairam... algumas ainda se fecundaram depois das libertar, mas estes mini núcleos ficaram mais despovoados... e com menos qualidade...

Após selecção das raínhas, cerca de 10 %, achei que a postura não era a melhor... tendo sido eliminadas!

Como a maioria das raínhas foram para fazer desdobramentos, o resultado está à vista, os núcleos estão bem fortes... vamos ver a próxima época melifera como corre!

Espero ter contribuido com algo interessante!

Cumprimentos,


João Tomé

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Visita ao Sr. Vicente Furtado "O Algarvio"

Durante as minhas férias por terras algarvias, não pude deixar de visitar o Sr. Vicente Furtado que me recebeu muito bem, e a meia hora que me disse que tinha disponivel para conversar cmg prolungou-se por várias horas... fruto da paixão pela apicultura e vontade de transmitir conhecimento!




O que maior prazer que me deu foi estar ao pé de comeias Apis mellifera ligustica e buckfast sem fato... uma sensação de liberdade estranha... fruto de estar habituado ao longo destes anos a ter de vestir o fato para me proteger das ferradelas da nossa abelha negra!

Mini núcleo de fecundação de raínhas...

Estufas...

O laboratório de inseminação artificial de raínhas...


Quadro de introdução de raínhas...

O Sr. Vicente a abrir uma colmeia Buckfast...

A inspeccionar a postura da raínha...

Cá estão elas...

Foi um prazer poder mecher e interagir com as abelhas sem necessitar de protecção... apesar do tempo estar meio nublado... zero ferradelas, ou tentativas!


Aconselho vivamente a visitarem o Sr. Vicente e conhecerem a sua forma de trabalhar e criar raínhas, pois posso afirmar que aprendi muito e muito ficou por falar e perguntar... soube a pouco...

Espero que possamos contar com ele por muitos mais anos...

Além desta visita para aprender um pouco mais à cerca da criação de raínhas, visitei também o Sr. Patricio da Apiguarda que também me recebeu muito bem e se disponibilizou para me mostrar o seu método de criação de raínhas. Muitas foram as questões colocadas em ambas as visitas, cabe-me a mim neste momento construir o método mais adequado ao meu estilo de vida e região.

Os conhecimentos adquiridos ao longo deste tempo já deram os seus frutos, tendo este ano criado raínhas maravilhosas...

O meu bem haja ao Sr. Vicente e ao Sr. Patricio pelos ensinamentos e paciência pelas continuas questões, como é hábito!

João Tomé

quarta-feira, 13 de abril de 2011

"Cloake Board Method" O meu método de criação de raínhas!

Após algumas pesquisas pela net, deparei-me com este método de criação de raínhas, que além de simples, fazemos tudo com a mesma colmeia, de inicializadora a finalizadora... e se quisermos depois da fecundação das raínhas também pode ser usado para as ter em stock!

Este método foi desenvolvido por um apicultor neo zelandês, o sr. Harry Cloake, nos anos 70, sendo bastante usado em todo o mundo na criação de raínhas em pequena ou grande escala.


Breve resumo:

Este método só é possivel com recurso a um "estrado" com uma grade excluidora de raínhas, que após colocada entre o ninho e a alça permite a entrada de abelhas, tendo a particularidade de se poder inserir um separador que divide o ninho da alça, isolando a raínha das restantes abelhas que estão na alça, criando uma colmeia orfã na alça.

A necessidade de mover as cupulas da colmeia orfanizada para a colmeia finalizadora é eliminada.

Para que haja muitas abelhas na alça, a entrada da colmeia é manipulada. A entrada das abelhas é rodada 180º e fechada, forçando as abelhas a entrar pela entrada superior do estrado.

Para atrair abelhas jovens para a caixa superior, são colocados quadros com criação aberta provenientes do ninho.

Um dia antes do picking é colocado o separador criando uma colmeia orfã e é aberta a entrada traseira fazendo com que as abelhas saiam e entrem pela entrada superior.

No dia seguinte ao picking é retirado o separador e fechada de novo a entrada inferior, criando o estado de uma comeia inicializadora.



Método:

Alguns dias antes do picking:

Assegure-se que a raínha está no ninho e coloque o "cloake board" sem o separador entre o ninho e a alça.

Transfira alguns quadros com criação aberta do ninho para a alça. A alça deve conter quadros com mel, polén, criação, se possivel um quadro com cera por moldar e um alimentador. Coloque o quadro com polén no centro, de onde irão ficar os quadros porta cúpulas.

Rode o ninho 180º (a entrada do ninho fica na parte traseira) e feche a entrada, forçando as abelhas a entrar pela entrada do entrado superior. Alimente as abelhas com alimento estimulante e polén, deixando-as acostumar-se a esta "perturbação".

Dia antes do picking:

O dia antes do picking coloque o separador no estrado e abra a entrada do ninho, permitindo às abelhas sair e quando regressem entrarem pela entrada superior, aumentando bastante a população de abelhas na alça. Retire os quadros de criação jovem.

O número de abelhas desejado deve criar barbas quando abrimos a alça, sendo estas as condições desejadas numa colmeia inicializadora.

Dia 1, o picking:

Faça o picking e coloque os quadros porta cupulas na alça, deixando os quadros flutuar estre a elevada população de abelhas. Não use fumo, evitando perturbar as abelhas.

Dia 2:

No dia seguinte, quando as abelhas já aceitaram as cúpulas (já se pode ver a % de aceitação, pode ver-se já os alvéolos reais iniciados e cheios de geleia real), deve retirar-se o separador do estrado formando o estado de colmeia finalizadora que irá cuidar dos alvéolos reais.

Dia 4, 5:

Quando os alvéolos reais já foram fechados (+/- 4 dias e meio depois do picking), os alvéolos já podem ir para a estufa a amadurecer ou então ficar na colmeia, tendo sempre a atenção de colocar quadros com criação aberta no meio.

Pode voltar a fazer de novo o picking, usando a mesma colónia, e assim sucessivamente.

Aspecto da alça quando é colocado o separador, aumentando exponencialmente o número de abelhas.


Aspecto da população que se pretende ter na alça para iniciar as os alvéolos reais, contudo havendo menos abelhas também são iniciados mas a % de sucesso é inferior.

O "cloake board" que uso, feito por mim aproveitando uma grade excluidora normal.


Pormenor da ranhura onde irá entrar o separador.


Quando se coloca o estrado as abelhas são surpreendidas pela ausência da entrada inferior e são forçadas a subir e a habituar-se à nova entrada.


Instintivamente começam a subir...


Entrada que foi rodada 180º, encontrando-se fechada.


Aspecto da colmeia após colocação do separador.


Quando se abre a entrada inferior as abelhas como já estão habituadas a entrar pela entrada superior, quando regressam à colmeia vão directas para lá, aumentando o número de abelhas na alça.


Dia do picking. É um dia sempre especial para mim!


Uma gotinha pequenina de água destilada no fundo da cúpula antes de fazer o picking ajuda sempre...!

Espero ter contribuido com algo de interessante!

Para já tive bons resultados... e vou continuar a usar esta técnica, cada um com a que se ajeita mais!

Boa criação de raínhas!